Embora a TI tenha se transformado em centro de formulação e reformulação do negócio, transformação digital é basicamente uma questão de liderança, cultura, estratégia e gestão de talentos do que uma questão de tecnologia.
Um amigo, destes do mundo virtual, postou uma história que compartilho.
Estava ele em Las Vegas participando da CES, aquele megaevento do setor de tecnologia assistindo a um painel sobre carros autônomos. Ao seu lado sentou-se um sujeito de uns 50 anos, laptop no colo, bolsa de couro, como muito dos executivos de tecnologia que frequentam a feira. Nos minutos que antecederam o começo do evento o sujeito puxou assunto. Small talk, como se diz por lá.
– O que você faz?
– Trabalho para um grupo de mídia do Brasil. E você?
– Sou lavador de carros. (“I’m a car washer”)
Evidentemente ele não se parecia com um lavador de carros. Eu fiz cara de incrédulo.
– Bom, na verdade sou dono de uma pequena rede de lava-jatos no estado de Indiana.
– Ah, interessante. E você está aqui em Vegas por causa dos carros autônomos.
– Sim, isso vai mudar totalmente o meu negócio.
– É, os carros vão sozinhos para o Lava Jato.
– Sim. E de madrugada, quando tem menos gente precisando deles.
Carros autônomos não são mais coisa de um futuro de ficção científica. Na verdade, eles já estão entre nós. O Lyft, concorrente americano do Uber, tem 30 carros autônomos circulando em Vegas. Por enquanto, ainda é obrigatório que uma pessoa se sente no banco do motorista. Mas na prática essa pessoa não faz nada. O volante e os pedais de aceleração e freio se movimentam sozinhos. É assim desde a CES do ano passado.
A CES se tornou um dos eventos mais importantes da indústria automobilística. Tão importante que o Salão do Automóvel de Detroit teve que mudar de data para não enfrentar a competição dos anúncios de lançamentos e da cobertura massiva de mídia do evento de Las Vegas.
Nessa edição foram apresentados vários conceitos desses carros do futuro que não terão motorista. O design é bem diferente da configuração de 2+3 passageiros dos carros tradicionais. Na visão das montadoras, o carro do futuro será mais parecido com uma sala de estar em que as pessoa se sentam frente a frente e conversam no caminho do trabalho.
Você percebe o fosso que nos separa do resto do mundo civilizado quando constata quais as nacionalidades das empresas presentes na CES.
Além das americanas, as chinesas são cada vez mais fortes e com produtos cada vez melhores. As sul-coreanas brilham nas áreas de eletro-eletrônicos (Samsung e LG) e automóveis (Hyundai e Kia). As japonesas sempre estiveram no primeiro time. Assim como as alemãs, francesas, inglesas, suecas, italianas.
Não há nenhuma empresa brasileira de destaque no evento.
Mas em Indiana, o dono do Lava Jato sabe que se não se adaptar aos novos tempos, um carro europeu com software chinês pode quebrar o negócio dele.
E está correndo atrás.
A lição que fica é de que olhar a TI apenas como ferramenta de melhoria de processos já não satisfaz, para construir a sobrevivência a transformação digital tornou-se estratégica.
No artigo Liderar a Transformação demanda uma serie de aprendizados o autor coloca as coisas em seu devido lugar ao afirmar que as mudanças estão apenas começando e já mostrando seus impactos. Nos próximos dez anos não reconheceremos muitas das organizações atuais, e muitas delas simplesmente deixarão de existir. Outras, que estão surgindo agora, tomarão seu lugar. A questão para os diretores e executivos das companhias veteranas é decidir hoje se querem ser sobreviventes ou não. Decidir daqui a dois ou três anos poderá ser tarde demais.
Embora a TI tenha se transformado em centro de formulação e reformulação do negócio, transformação digital é basicamente uma questão de liderança, cultura, estratégia e gestão de talentos do que uma questão de tecnologia. Uma verdadeira transformação ocorre quando os modelos de negócios e métodos são reinventados por líderes corajosos, dispostos a aproveitar a oportunidade, mesmo sabendo dos riscos, e que estão realmente empenhados em desenhar seu próprio futuro, não esperando, em vão, que ele surja naturalmente.
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